Archive for Fevereiro, 2007

Imaculado Novo Mundo

The New World
The New World
The New World
A poesia em movimento, a perfeição, intensamente sentida, os sentimentos que emanam da terra e vivem no vento, na pele e no calor dos corpos. Silenciosamente, vidas completas que queimam e elevam as mentes de quem vê e ouve como se tocasse e saboreasse. Novo Mundo que paira etéreo, transcendente, acima da realidade, que nos envolve e aperta o coração com a dor insuportável do que será para sempre inatingível. Ímpar para os que crêem o amor com mágoa permanente.
Trágico, marcante, imaculado e dolorosamente sensível, é O Novo Mundo.
O melhor filme de 2006, uma obra-prima, uma marca que ficará comigo enquanto eu for eu.

O inevitável, o adiado e o surpreendente

Óscares 2006
E todos justos. Os restantes, melhores ou piores, podem ser vistos aqui.
Só acho é que começam a haver pinguins a mais neste mundo…

7 Nomeações que nunca aconteceram

… mas que eu gostava que tivessem acontecido. Sem juízos sobre os que realmente receberam as honras e sem sugestões sobre quais os nomes que seriam substítuidos nas listas de nomeações, são apenas 7 nomes que me lembram mais uma vez da eterna miopia do Óscar.

7. Match Point
Melhor Filme
Match Point

6. The Prestige
Christopher Nolan, Melhor Realizador
The Prestige

5. Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan
Sacha Baron Cohen, Melhor Actor Principal
Borat

4. The New World
Q’Orianka Kilcher, Melhor Actriz Principal
The New World

3. Children of Men
Alfonso Cuarón, Melhor Realizador
Children of Men

2. The Departed
Jack Nicholson, Melhor Actor Secundário
The Departed

1. The New World
Melhor Filme
The New World

Down in the Valley

Down in the Valley
Harlan destoa da paisagem, solitário, tímido e doce, vivendo um dia de cada vez, calcorreando melancolicamente caminhos de terra batida com as suas gastas botas de cowboy enquanto ajeita o chapéu de abas. Não sabemos de onde veio ou porque se comporta como se vivesse no Velho Oeste de Peckinpah, sentimos apenas a sua tristeza e profundo vazio interior. É um homem quebrado e perdido que não sabe o que procura ao qual adivinhamos um passado obscuro de órfão do Estado, que passa o seu tempo construindo o seu mundo particular, falando sozinho e encenando as suas fantasias no seu pequeno apartamento. Vive assim, lentamente, na falta de forças para encarar uma realidade amarga, até que conhece October, uma adolescente revoltada, epíteto da juventude e da beleza, que rapidamente se torna o centro de um mundo privado que antes vagabundeava, sem direcção.
A bizarra e repentina relação segue caminhos tortuosos, proibida por Wade, um homem desiludido que não sabe lidar com os filhos, a rebelde October e o tímido e inseguro Lonnie, e que não sabendo mostrar amor se entrega à frustração e à agressividade.
Edward Norton Down in the Valley
No entanto, em vez de salvar Harlan da alienação da sua vida de brincar, a relação torna-se uma fonte de obsessão para o cowboy imaginário, que perde lentamente a sua já fraca noção da realidade. Harlan transforma-a numa estória romantizada, um filme de índios e cowboys, em que ele se vê como o herói justiceiro, o cavaleiro galante que terá que salvar a sua amada do que na realidade é apenas uma adolescência normal com um pai pouco compreensivo. Mas no universo que criou para si próprio mais ninguém pode viver e o desmoronamento de um mundo que não poderia sobreviver ás mãos da realidade torna-se um perigo iminente.
Down in the Valley Norton Evan
Delicado, introspectivo e negro, apelidado de “Taxi Driver of the heart”, Down in the Valley é uma tragédia grega sobre a derradeira subjugação da fantasia à realidade, que faz uso dos mitos que povoam os imaginários como modo de expressão da esperança humana e possível veículo da sua degeneração em puro delírio. As personagens são dolorosamente reais, complexas e ambíguas, sendo interpretadas magistralmente. Edward Norton exala desespero e melancolia por trás do seu doce sorriso e Evan Rachel Wood, que já mostrara o seu potencial em Thirteen e Once and Again, faz-nos acreditar na possibilidade de um futuro brilhante no grande ecrã, ostentando um encanto irresistivelmente agridoce de uma beleza clássica e uma inocência selvagem. O veterano David Morse completa o magnífico quadro de interpretações, num papel enganador e pleno de subtilezas, mostrando a verdadeira essência da sua personagem nos momentos de silêncio.
Um argumento fantasioso e melancólico, uma fotografia e uma banda sonora capazes de construir um mundo por si só e um elenco perfeito fazem deste filme uma obra especial, sensível e tocante que tal como o seu personagem principal cria para si um nicho peculiar entre o real e o surreal, que requer uma imaginação e uma sensibilidade muito particulares.
Mesmo não sendo para todos, fica completamente aquém da minha compreensão a razão do aparente “directo para DVD”.

    Disconcordem: 8/10

Discordâncias:

The purity of Norton’s madness is a wonder.

New York Magazine

A movie the actors and director take as far as they can until the story bogs down in questions too big to forgive.

Chicago Sun-Times

O divórcio de Grindhouse

Grindhouse Planet Terror
Entusiasmados com o formato inovador de Grindhouse? Não estejam.
O conceito da grindhouse americana, cinema de má fama onde o B-movie e o mau gosto é rei, foi considerado pelos distribuidores inacessível para o público estrangeiro, tal como o clássico formato “double-feature” que lhe é normalmente associado. Quer isto dizer que nos países de língua não-inglesa os filmes de Quentin Tarantino e Michael Rodriguez serão estreados separadamente com alguns meses de diferença, à lá Kill Bill, sem se saber ainda qual será o primeiro a chegar. Os trailers falsos que separariam Death Proof e Planet Terror, realizados por Rob Zombie, Edgar Wright e Eli Roth, irão provavelmente ser exibidos no início dos filmes. Quiçá como compensação ou (provavelmente) como meio de aumentar a duração de cada segmento, diz-se que os filmes irão ter cenas adicionais que não farão parte da versão original.
Fiquei triste, sinceramente, fiquei. Grande parte da piada estava em sermos apresentados a um formato novo por estes lados, isto para não mencionar que os filmes foram pensados para ser vistos ao mesmo tempo e seria curioso ver a relação entre as duas películas no grande ecrã. O efeito não será certamente o mesmo.

Monstros descartáveis

Harsh Times
Os demónios interiores de um ex-soldado americano mentalmente instável que tenta (re)construir uma vida normal depois do seu serviço militar no Afeganistão são o catalisador de toda a acção de Harsh Times. Jim Davis (Christian Bale) cruza as ruas de Los Angeles alternando entrevistas de emprego com actividades pouco recomendáveis que frequentemente ultrapassam o limite da legalidade, exibindo ataques de fúria cada vez mais explosivos e imprevisíveis. Arrastando consigo Mike Alonzo (Freddy Rodriguez), o seu melhor amigo de fraca vontade, Jim perde gradualmente o controlo sobre as suas próprias acções, transformando-se numa autêntica bomba relógio, numa peça perdida do espólio duma guerra que lutou e que o marcou indelevelmente. A sua humanidade parece cada vez mais residual à medida que Davis entra numa espiral de auto-destruição e caos, pondo em perigo o futuro que desejava construir para si próprio ao lado da sua namorada de longa data, tal como o daqueles que o rodeiam. Temos assim uma boa premissa num filme que poderia ser um testemunho contra a máquina americana de fabrico de soldados descartáveis e moralmente deficientes, impregnados de um patriotismo cego e vazio, mas infelizmente a direcção de David Ayer confunde-se e acaba por se perder na história que quer contar.
Harsh Times começa devagar e dá voltas excessivas e desnecessárias em redor dos dois amigos que circulam pela cidade num lento crescendo dramático, deparando-se com situações cada vez mais precárias e explosivas. Esperamos demasiado tempo pela descolagem da narrativa, que acaba por transparecer uma certa fragilidade e instabilidade na falta de um “cimento” que ligue de forma consistente as diferentes sequências, algumas delas de grande intensidade emocional. De qualquer modo, o filme vai melhorando, encontrando a sua personalidade e ritmo com o tempo e proporcionando finalmente um desfecho muito bem conseguido que não é de todo imprevisível, mas que também não tinha que ser. Este não é um filme de “twists”, mas sim da inevitabilidade do óbvio e Ayer consegue exprimi-la de forma contundente e crua, num pico dramático com pouca arte mas muita emoção.
A inevitável, e por vezes menos subtil do que se desejaria, crítica social tenta elucidar-nos duma realidade escondida, mostrar-nos os monstros no escuro, mas peca cedendo momentaneamente ao exagero e ao rocambolesco, o que pode pôr a verosimilhança e realismo do argumento em risco. Os diálogos não são o forte e a interacção entre as personagens chega a ser irritante de tanto que parece saída de um videoclip de “gangsta rap”, soando muitas vezes forçada e estereotipada e dificultando a identificação do espectador com as personagens. Contudo, um dos grandes trunfos é a forte (e inesperada) química entre Bale e Rodriguez. O seu companheirismo macho, misógino e quase arcaico exala de cada imagem, deixando entrever um laço muito forte entre os dois homens que dá sentido à narrativa e à sucessão de situações cada vez mais complicadas que de outro modo seria inverosímil. Freddy Rodriguez oferece uma óptima interpretação na pele de um homem indeciso e dividido entre lealdades, que se deixa levar ao sabor das vontades alheias demasiadas vezes. Eva Longoria é Sylvia, a namorada de Mike e dá consigo a encarnar mais uma vez uma dona de casa desesperada, que preconiza o pior enquanto tenta afastar o companheiro da má influência de Jim. Eva parece continuar a sua procura pelo caminho certo em Hollywood e consegue aqui fazer-se notar no ecrã, ao contrário do que aconteceu na sua recente (e inútil) participação em The Sentinel, que foi despropositada e esquecível. No entanto, ainda lhe resta conseguir entrar num filme em que a sua apresentação não constitua em mais um plano guloso da senhora a afastar-se enquanto o lânguido olhar da câmara a percorre de cima a baixo…
O melhor é, claro, a presença de Christian Bale, que toma mais uma vez conta do ecrã provando de uma vez por todas que encarna sociopatias como ninguém, mas Davis é um homem arrogante, inculto, convencido, incauto e um fala-barato incorrigível, tomando características que não estamos habituados a ver Bale personificar, o que pode causar alguma estranheza depois de personagens silenciosas, introvertidas e mesmo frias tão marcantes como Patrick Bateman, John Preston, Trevor Reznick, ou mesmo Bruce Wayne.
Tempos Cruéis é um filme interessante, com bons momentos e boas interpretações que sobrevive às inevitáveis e compreensíveis comparações com Training Day, também escrito por Ayer. Entretém o espectador, especialmente o apreciador do género, mas sofre pela falta de subtileza e decisão na direcção e de naturalidade e fluidez no argumento. Fica a saber a pouco e pressentimos que podia ser muito mais. Vale especialmente por Bale.

    Disconcordem: 6.5/10

Discordâncias:

There’s a sharp edge of attitude and humour in the script that keeps us riveted, especially since it’s so brilliantly played.

Shadows on the Wall

The film builds to a melodramatic finale that would like to make you weep, but by then it has worn out your patience.

New York Times

Aaron Eckhart/Harvey Dent

Two-Face Harvey Dent
Está confirmado. Aqui e aqui também.

A nova namorada do Batman

Maggie Gyllenhaal
Parece que já temos Rachel Dawes. Ainda não confirmado pelos chefões, mas é definitivamente o rumor mais sólido até à data. Parece-me bem, agora vejamos se vão dar a Maggie Gyllenhaal um papel à altura do seu talento.
Ah, e se encontram o Harvey Dent de vez…

Frank Miller Returns

Ronin
Sin City tornou-o definitivamente num nome conhecido e reconhecido fora da arena dos comics. Frank Miller é um dos maiores nomes deste universo, tendo dado valentes e aclamados empurrões nas “carreiras” de Batman, Elektra, Daredevil ou Wolverine. Como autor foi o criador das graphic novels Sin City, Ronin ou 300, promovendo novos formatos e o seu estilo inconfundível, muitas vezes associado ao film noir.
As suas obras já tinham inspirado várias transições da BD para o cinema e Miller tinha já experimentado a carreira de argumentista com resultados amargos em Robocop, mas foi com Sin City que se estreou na realização, ao lado de Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, na primeira adaptação de uma das suas obras originais. Foi definitivamente, o melhor empurrão que se pode ter no negócio de Hollywood. À primeira Cidade do Pecado seguir-se-ão a segunda e a terceira, 300 já está quase, quase pronto e a fazer crescer água na boca a muita gente, e está confirmado: Ronin já está na calha.
Ronin foi a sua primeira criação original, editada pela primeira vez em 1983, e conta a história de um Ronin, samurai do século XIII, e do seu renascimento na Nova Iorque do século XXI, onde terá que enfrentar a reencarnação do demónio ancestral Agat.
A adaptação para o cinema será em princípio realizada por Sylvain White, o que pessoalmente não é boa notícia, considerando a curta filmografia de que Stomp the Yard e I’ll Always Know What You Did Last Summer constituem metade. Depois da excelente associação de Frank Miller com Robert Rodriguez e Quentin Tarantino e da adaptação de 300, que é um dos filmes mais esperados do ano e que já irradia uma aura que combina culto com blockbuster, basta-nos esperar que Ronin não venha a ser um trágico fim para a “Miller-mania” dos últimos anos.

Terror político

AV cover
A propósito do mui discutido referendo de amanhã, muito se fala e muito se ouve sobre política nestes dias. E por vezes as conversas prolongam-se e fogem ao tema específico alargando-se o assunto às ideologias gerais e ao posicionamento político de cada um. Somos de esquerda, de direita ou de centro esquerda que ainda apanha um bocadinho da direita? A maior parte das pessoas parece nem saber muito bem, mas uma das formas de descobrir o “lado” da nossa visão sobre o que o mundo é e o que deveria ser está nas pequenas escolhas e opiniões que fazemos e defendemos dia após dia.
Para quem anda perdido, pode começar por analisar… os seus gostos cinematográficos, mais especificamente no que concerne aos filmes de terror. O A.V. Club compilou num artigo verdadeiramente curioso (e cómico) duas listas de filmes de terror de diferentes épocas: os filmes de esquerda e os filmes de direita. Alguns óbvios, outros dissimulados e muitos que tenho a impressão que nunca tiveram qualquer intenção política por detrás. No entanto, a profissão do assassino em causa, quem morre primeiro ou se os “maus” estão em maioria ou minoria são aparentemente características que reflectem convicções sociais ou políticas e descobrir os tiques políticos dos horror flicks que todos conhecemos tem a sua piada. E apesar da sensação de bizarro, no fim da leitura… tem até uma certa lógica.
Só para ficarem com uma ideia, segundo este artigo os militantes de esquerda ficarão mais contentes com filmes como Land of the Dead (George A. Romero, 2005), Eyes Without a Face (Georges Franju, 1960), American Pshyco (Mary Harron, 2000), They Live (John Carpenter, 1988), ou Body Snatchers (Abel Ferrara, 1993), enquanto que aqueles com maior inclinação para a direita preferirão The Exorcist (William Friedkin, 1973), The Last House on the Left (Wes Craven, 1972), The Exorcism of Emily Rose (Scott Derrickson, 2005) ou um qualquer slasher, com o assassino a matar um grupo de adolescentes bem-parecidos um a um.
Se não conseguem descortinar qual a relação, o melhor é mesmo ler o artigo completo. E não se assustem, a preferência por qualquer dos filmes mencionados não implica a afiliação com qualquer partido ou ala política.

Oh, l’amour!

Paris, je t’aime
Encontros, primeiros encontros, últimos encontros. Inícios, fins e recomeços. Cego, surdo e mudo. Gay, hetero ou desesperantemente só. Filhos, maridos, desconhecidos e namorados. Vivos, mortos e mortos-vivos. Vazios e transbordantes. Prostitutas, turistas, actores e mimos. Abraços, olhares e beijos.
Na cidade das luzes.
Paris, je t’aime!

As escolhas de Homer Simpson

Homer Simpson’s Picks
Opiniões informadas e válidas sobre os possíveis vencedores das estatuetas douradas? Quem melhor do que Homer Simpson?! Enjoy!
Ah, e um obrigado (adiantado) ao KritiCinema! 😉

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